Nos últimos dias 24 e 25 de julho de 2010, aconteceu no Centro Espírita Humberto de Campos a Formação Continuada de DIJ’s de João Pessoa, com a participação de evangelizadores e juventudes de oito Casas Espíritas da cidade, tendo como tema central: “Evangelizadores e Juventudes Espíritas: juntos, aprendendo a semear o Evangelho de Jesus”.
Nesse evento houve várias apresentações das juventudes e notáveis palestras de irmãos como Rossandro Klinjey, de Campina Grande, e Iara Machado, que teve como tema “Conflitos e desafios vivenciados pela juventude no século XXI”.
Foi com Iara que conseguimos essa adorável entrevista. Psicóloga, ela tem como especialidade tratar de jovens dependentes químicos. Pelo seu conhecimento doutrinário e experiência profissional, ela nos esclareceu sobre a importância da ligação com Deus, a atenção da família e do amor para auxiliar a luta do jovem contra as drogas.
JEAL: Por que você decidiu trabalhar como psicóloga, se especializando no tratamento de jovens com dependência química?
Iara: Eu sempre tive uma preocupação muito acentuada com a juventude, porque na minha adolescência eu tive no meu convívio social a presença de jovens que usavam drogas, e eu vi o quanto isso comprometeu o desenvolvimento da vida deles como pessoas, o quanto eles não desenvolveram nos estudos, como ficou pra trás a oportunidade já existente. Então, na medida que eu vivenciei, próximos de mim pessoas que eu gostava, que eu queria que pudessem ter ido além na vida, terem ficado pra trás por conta das drogas, eu priorizei estudar sobre isso, pra ajudar a outros jovens a não seguir esse caminho tão equivocado.
JEAL: Como é trabalhar com esses jovens? O que falta a eles e o que eles têm em excesso?
Iara: É muito difícil a gente definir o que exatamente acontece com o jovem que decide seguir o caminho, por exemplo, das drogas. Porque aqueles que têm recursos financeiros, que têm dinheiro, e que ainda assim decidem por esse caminho porque se sentem carentes de amor na família. Têm dinheiro, mas não têm a presença dos pais, não têm a amizade dos familiares. E há outros que, pelo contrário, vivem num lar de pobreza, desestruturado, com violência doméstica, às vezes com problemas de muita ordem de afetividade, comprometido em relação aos pais, e que talvez usem a droga como uma fuga. Porque na verdade a droga é isso: uma fuga da realidade difícil que o jovem tá passando. Só que ele não entende que fazendo dessa forma, ele vai perpetuar o problema, ele não vai resolver o problema, ele vai acrescentar ainda mais problemas na sua vida agindo dessa forma. Exatamente, é uma defesa equivocada, porque ele vai fugir da realidade. E quando ele voltar da ilusão da droga, ele vai continuar tendo o mesmo problema pra resolver e ainda um outro, que ele vai adquirir, pelo consumo e pela dependência.
JEAL: Você acha que o Movimento Espírita está cumprindo o seu papel no que diz respeito à Evangelização Infanto-Juvenil?
Iara: Como toda instituição que passa pelo campo da evangelização, não só o Espiritismo, mas as outras facções religiosas, como o Protestantismo, o Catolicismo e outras, fazem o que podem pra que haja o desenvolvimento. Porque a evangelização não é uma via de mão única; é uma via de mão dupla. Os evangelizadores precisam investir tempo, recurso material, recurso humano, espaço físico pra que a juventude aconteça dentro da Casa Espírita, mas o jovem também precisa estar disposto a sacrificar determinadas horas de trabalho, de estudo, de lazer para permanecer na casa, pra contribuir com a Casa Espírita através do seu estudo, do seu conhecimento, o seu desejo de se engajar através da música, através da arte. Então, não é só a Casa Espírita fornecer o recurso, mas o jovem saber aproveitar esse recurso e desenvolver ainda mais, porque a força de um grupo reunido facilita com que as coisas venham a acontecer ainda mais. Então a juventude unida, ela pode favorecer a Casa Espírita a desenvolver ainda mais o Departamento de Infância e Juventude da casa.
JEAL: E em relação à família? O que o Espiritismo pode fazer para ajudar nos conflitos familiares?
Iara: Uma das coisas que o Espiritismo já tem tentado fazer através do Departamento de Infância e Juventude é instituir aquilo que a gente chama de GP, que é o Grupo de Pais. Então, há Casas Espíritas hoje que fazem reuniões de pais ou responsáveis pela criança e pelo adolescente pra que eles possam contribuir. Porque a evangelização é uma hora de aula por semana, e a manutenção da casa é muito pouca, então se não houver uma continuidade em casa através do exemplo familiar, do esforço dos pais, pra que eles possam mudar também determinados comportamentos que prejudiquem o desenvolvimento dos seus filhos, nós teremos um resultado muito menor. Então o convite da Casa Espírita é pra que os pais participem, não só como ouvintes, mas também até como evangelizadores.
JEAL: Os pais devem dar exemplo aos jovens no que diz respeito à educação, comportamento e drogas, mas hoje em dia muitas vezes a situação se inverte. O que se deve fazer para ajudar os pais a sair do mundo do álcool? (Pergunta feita por Brena, integrante da JEAL.)
Iara: É um desafio. Na verdade, nós sabemos através da Doutrina Espírita, pela Lei da Reencarnação, que nós somos colocados na família que merecemos. Se um filho chega numa família onde o pai tem o problema do alcoolismo, se ele é um alcoolista, e esse filho já tem uma lucidez, um discernimento melhor pela sua própria evolução pessoal, ele pode ser um agente que minimiza os danos na casa, através da oração, através da implantação do Evangelho no Lar, através das idas à Casa Espírita, trazendo o nome do familiar, desse pai que é comprometido, para as reuniões de desobsessão. Então é possível ser feito esse trabalho na periferia da família a fim de atingir o núcleo adoecido, que muitas vezes também há aí um comportamento obsessivo, e outras estruturas que se apegam a esses campos de viciação. Então, o jovem pode sim ajudar a família, vindo para a Casa Espírita e trabalhando-se, enquanto alma imortal, para que ele possa voltar pra casa com fluidos, com energias melhoradas que possam beneficiar o próprio ambiente familiar.
Muito obrigada pela atenção, e até a próxima postagem!
